Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

domingo, 11 de novembro de 2012

Apocalipse 2012 - Página 2


 
Todos se afastam quando o mundo está errado/Quando o que temos é um catálogo de erros/Quando precisamos de carinho/Força e cuidado/Este é o livro das flores/Este é o livro do destino/Este é o livro de nossos dias/Este é o dia de nossos amores - Legião Urbana.

   Hesediel entrou a casa percorrendo os olhos pela sala em busca do Livro dos dias, o livro sagrado dos deuses, mas somente achou o livro de Homero e outro de José Saramago, O evangelho segundo Jesus Cristo. Procurou nas paredes a cruz cristã, assim como o Livro dos dias ou o Livro Sagrado - este, devido a sua raridade, dificilmente seria encontrado -, contudo, no tempo atual, símbolos de maior pureza da alma, dificilmente seriam achados também. Apesar das velas acessas, aquela casa era pagã, seria perda de tempo permanecer ali, não haveria ninguém próximo da pureza sanguínea. Ao colocar a mão na maçaneta da porta da sala para sair, ele ouve suspiros vindos do quarto. A grávida havia acordada, Iratus, sem perder tempo, voou até a escrivaninha onde estava o estojo com o pó do sono, agarrou-o com uma das asas e o espargiu sobre o rosto dela. Imediatamente a grávida voltou a dormir. Hesediel, com as mãos na maçaneta da porta do quarto, desistiu de entrar após não ouvir mais os sussurros. Uma gota de suor no rosto de Iratus ia cair sobre uma bacia próxima da cama provocando ruído. Furiosus, em um movimento impensado, soprou na intenção de desviar a gota de suor, contudo o sopro foi muito forte, desviando, também, a bacia. O ruído foi maior do que teria sido se fosse provocado pela gota. Iratus, ao perceber o erro de Furiosus, levou a mão à espada Daemo antevendo a batalha. Hesediel já estava preparando voo quando o ruído o reteve. Ao abrir a porta do quarto, um gato preto voou em sua direção arrancando uma pena de sua asa. Dando uma volta em torno de si e levantando voo, Hesediel pegou o gato pelo rabo e o arremessou na parede da sala. Em um dos cantos do quarto, Iratus segurava a espada Daemo esperando o ataque. Com o impacto, a parede foi ao chão. Hesediel nem se deu ao trabalho de verificar o quarto e se o gato havia morrido. O gato saiu dos destroços sacudindo o pó do seu corpo para em seguida ganhar a forma humana, era Furiosus. O seu olhar irado e vingativo mirou Hesediel que sobrevoava abaixo das nuvens negras. Furiosus passou por cima dos destroços abrindo as suas asas já na forma angelical e ordenou a Iratus que seguisse Hesediel.

   Furiosus adentrou o quarto com as suas asas abertas, plainando com as pequenas asas dos pés e agigantando diante da grávida. No seu rosto havia o contentamento do vitorioso. O seu riso gutural estrondou pelo quarto e juntamente com o grito de medo da grávida, acordada com o barulho, ganharam a rua e ecoaram pelo nevoeiro. Na mão de Furiosus havia o corno do Senhor das Trevas, na escrivaninha um saco com o plasma do mesmo e o caldeirão Diabolus retirado da mesma sacola onde estavam os outros objetos. A escuridão traria o seu filho à luz. O processo iria começar.


   A lufada de vento, provocada pelas batidas das asas do anjo Hesediel quando Petrus foi a busca do médico, o fez lembrar-se do que ocorrera no dia anterior:

   "Despreocupados com o nascimento do seu filho, pois ainda faltavam três semanas de gestação, o sol tal qual uma pedra preciosa bem lapidada brilhando sem nenhuma nuvem a lhe perscrutar - isso, provavelmente, por não haver ventos -, eles flutuavam grávidos por promessas de felicidades, admirando o céu. Na cidade o dia corria silente, às vezes quebrado por latidos de cachorros em algumas ruas, e por conversas lhes chegando aos ouvidos, esmaecidas.  

   Repentinamente imperou um mutismo sepulcral, assustando-os, como se o tempo, as pessoas, os animais houvessem parados, e somente eles percebiam. Nos olhos petrificados dos animais o pavor era latente. Nenhuma palavra se fez audível, o medo colocava freio na língua das pessoas. As aves evolavam no céu distando dali sem fazer o ruído característico de quem voa, como se elas estivessem sendo empurradas pelos ventos. Seres alados símiles a morcegos voavam em sentido contrário. A esposa de Petrus havia ido para a cama descansar, ele, pensando no filho que estava para nascer, não percebeu que os seres alados não eram morcegos, mas anjos Shaitans.

   Enfim, quando o silêncio se fez audível, ou seja, o único ruído que se ouve é a própria respiração, Petrus se deu conta que alguma coisa estranha estava  acontecendo. Pressentiu forças invisíveis o perscrutando.

   A esposa de Petrus, deitada, tomada pelo sono das grávidas, repentinamente, se levantou da cama com os cabelos - até então lisos como a seda - emaranhados. Assustada pelo pesadelo, seu grito de dor se confundiu com o ruído de latas e galhos de árvore se açoitando nas ruas. Ela deixou os seus olhos serem levados, hipnotizados, à balburdia da rua e saindo de si, se viu dando à luz a besta. Entremeada por choros e gritos, ela foi despertada do transe, e depois consolada por Petrus.

   O sol foi acortinado por nuvens plúmbeas, o dia claro perdeu a sua luminosidade, o silêncio foi quebrado pela chuva torrencial. Depois do temporal, a cidade não havia recuperado as suas cores, pois, tanto o sol, como o céu, estava encoberto por um manto negro.

   Tudo parecia fora de propósito, fora de lugar. Inopinadamente, o manto negro se desfez e seres alados munidos de espadas sangravam animais e gentes. O céu mandou ajuda com chuvas tempestivas, ventos bravios e relâmpagos, mas cessou assim que os seres alados se juntaram novamente e o cobriu totalmente.

   Na rua, a enxurrada levava consigo os destroços, pessoas e animais mortos, porém, não levava o medo acometido a todos os habitantes da cidade. O sossego, até então, do pacato lugar, foi substituído pelo pavor estampado no rosto das pessoas. Elas mal sabiam que o pior ainda estava por vir. E era apocalíptico. 

   O manto negro que cobria o céu retirou daquela pacata cidade o clima de felicidade que até então imperava. O sossego somente chegou ao entardecer, quando um nevoeiro adentrou as ruas e deu uma falsa sensação que assim que ele fosse embora o sol voltaria. A maioria das pessoas se prendeu em casa tendo como vigia o medo, não vira quando uma densa névoa cobriu toda a cidade, diminuindo o campo de visão e tirando qualquer possibilidade de saber se era dia ou noite".

   Foi nesse cenário que Petrus saiu para buscar o médico para fazer o parto de sua esposa. Bem acima de sua cabeça, os anjos Shaitans o vigiavam, não podia matá-lo, pois precisava de sangue para a maturação do filho do Senhor das Trevas, e ele, sem saber, estava indo atrás de um.
 
Continua na quarta-feira às 12hs00min
 
Imagem Google

36 comentários:

  1. Uau! E deixa o leitor com essa última informação ter que esperar para o próximo capítulo? Crueldade de autor! Rsrsrs.
    Gostei desta nova página! Fico ansiosa por descobrir a seguinte.
    Parabéns, Eder! Está excelente!

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    1. Dulce, uma história longa precisa de ganchos para prender o leitor e trazê-lo de volta. BJos.

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  2. meu querido Eder, voce sabe o qto admiro como voce sabe escrever descrever teus pensamentos e emoçoes mas tbem ja deve saber como eu penso:))
    abraços

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    1. Myra, minha querida amiga, isso é uma ficção, além disso, um escritor não pode ficar preso as suas crenças se quiser contar uma boa história. BJOS.

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  3. Eder,
    A sua criatividade para criar esses anjos, os bons e os maus, descrever as cenas e os nomes que usa para os personagens deixa a história muito interessante e dinâmica.
    A cada final de capítulo fico curiosa para ler o próximo e descobrir o que vai acontecer.
    Parabéns por mais um capítulo deste apocalipse.

    Abraços

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  4. Eder, essa história está me dando medo...bem apropriada para as vésperas de um possível fim do mundo! Um abraço!

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  5. Nossa! O mal ganha força no seu conto. E fico a esperar uma reviravolta. Bjs.

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    1. Marilene, esperamos para ver se isso acontece. Bjos e boa segunda.

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    1. kkkkkkkkkkkk. Essa é boa. Gostei. Bjos e boa segunda, Vivian.

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  7. A situação está piorando e ficando mais tensa, pelo que se nota. O que virá por aí? Estarei aqui para saber. Abraços.

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  8. Olá!Bom dia!
    Tudo bem?
    Éder...
    vixe...será que o bebê vai nascer numa matriz de identidade, ou seja, num ambiente observado pelo Senhor das Trevas e já começa a desempenhar papel importante nesse mundo apocalítico...aguardando!
    Obrigado!
    Ótima semana!
    abraços

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    1. Felisberto, direi apenas q vc tem um pouco de razão. Abçs e boa segunda.

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  9. E eu que ia ralhar contigo por ter feito o anjo atirar o gato contra a parede... Mal sabia que era um anjo mau, disfarçado de bichano. O senhor é cheio das artimanhas, heim? Tô com medinho desse seu fim do mundo.

    Beijo!

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    1. Milene, não tenha medo do fim do mundo, afinal, onde houver um ser pensante mau, já está subentendido que o fim está próximo, então, salvemos os gatos. Miau de bom dia e uma boa segunda. Bjos.

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  10. Bem, o sr. tinha que terminar esse episódio com uma vírgula? Tá me torturando hein? A cena do gato foi o momento mais tenso, no mais o barco está seguindo tranquilo. Bota logo essa criança no mundo né! Afinal é ela o eixo dessa engrenagem coreto?:) Fico por aqui aguardando os acontecimentos... Gr. Bjooo e uma semana maravilhosa para você meu querido!

    p.s.: Não me vai acabar com tudo sem que eu esteja preparada viu? srsrs

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    1. Cris, não queira o bascimento dessa criatura, vc nem imagina o q ele é capaz de fazer. Qto a pergunta, vc tá certa.
      Qdo as nuvens estiverem encobrindo o céu de Brasília, se prepara e corre pro Planalto Central, lá o Senhor das Trevas não atacara, ele se sente em casa...kkkkkk. Bjos.

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  11. Eder,mais um capítulo eletrizante!Grande inspiração!Vamos esperar os próximos capítulos!bjs e boa semana,

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  12. muito bom, Eder, enquanto lia lembrei do filme O Bebê de Rosemeri e o estilo lembra muito a mitologia grega. super criativo e bem escrito. beijos

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    1. Jeanne, o filme, qdo assisti, me meteu bastante medo. Sim, tem muito da mitologia grega. Bjos.

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  13. Rsrsrsrs, li o primeiro capítulo, e já estou neste segundo engatinhado para o fim, ansiosa, fixa neste tão inevitável suspense..:)

    Beijos

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    1. Aos poucos, Cecília, os mistérios serão revelados e o suspense diminuirá. Bjos.

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  14. Olá!Boa tarde!
    Éder...
    passando para ler a resposta, agradecendo o carinho da visita e desejando uma ótima terça feira!
    Obrigado!
    Té amanhã!
    Abraços

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  15. Oiiii. Sempre acompanhando a s páginas, os acontecimentos.
    Bjs

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  16. OI EDER!
    CONTINUANDO E GOSTANDO...
    VOLTAREI!
    ABRÇS

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  17. À medida que vamos lendo vamos também penetrando nesse mundo mágico surreal e cheio de suspense.
    É bom perceber como seu modo de escrever nos deixa sempre interessados ao porvir desses personagens.
    Abraços,

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